Feiras e redes movimentam negócios e inovação no varejo de material de construção
Em um setor marcado por ciclos de obras, pressão por eficiência e mudanças nos hábitos de consumo, grandes eventos e redes associativistas assumem papel central como catalisadores de negócios e difusores de tecnologia. A Expoconstruir e o Encontro Nacional de Redes (ENARE) exemplificam esse movimento: ao mesmo tempo em que promovem rodadas de negociação, eles oferecem painéis temáticos e capacitação técnica que conectam indústrias, atacadistas e varejistas especializados.
Os números projetados para a 7ª Expoconstruir ilustram a dimensão da plataforma: a organização espera gerar mais de R$ 500 milhões em negócios e atrair cerca de 35 mil visitantes, segundo os organizadores. O evento prevê exposição de grandes marcas de cerâmica, tintas, materiais elétricos, equipamentos e ferramentas, além de uma programação de palestras sobre marketing digital, logística e sistemas construtivos, que visam precisamente qualificar o atendimento e as operações do varejo regional.
No âmbito nacional e mais focado no relacionamento entre redes e indústrias, o ENARE — promovido pela federação das redes associativistas — combina aprendizado e negociação. A 30ª edição terá painéis sobre temas estratégicos, como os impactos da reforma tributária e o uso de inteligência artificial nas mídias sociais, além do primeiro Painel de Mulheres no evento. Na prática, a novidade operacional do ENARE é o novo formato da rodada de negócios: serão 17 rodadas, com 34 indústrias parceiras atendendo simultaneamente 28 redes, ampliando o grau de encontro entre oferta industrial e demanda das redes.
Esses formatos — rodadas estruturadas, atendimento simultâneo a redes e painéis temáticos — têm efeitos práticos sobre as microestratégias do varejo. A ênfase em temas como digitalização, curadoria de portfólio e capacitação técnica cria espaço para que pequenos e médios revendedores adotem soluções apresentadas nas feiras e replicáveis no ponto de venda: do uso de ferramentas digitais para atendimento à seleção mais criteriosa de produtos, passando por práticas logísticas que reduzem lead times.
O caso da Vilarejo Acabamentos, rede familiar que atua no Rio de Janeiro e completa quase três décadas, exemplifica essa trajetória de profissionalização sustentada por feiras e parcerias. A presidente Monique Mello atribui ao investimento em digitalização do atendimento, em sistemas de gestão e em experiências de loja a capacidade de expansão para nove unidades e a consolidação de uma curadoria de produtos que atende a segmentos de alto padrão. Para redes como a Vilarejo, eventos e relações com indústrias funcionam tanto como vitrine de novidades quanto como fonte de treinamento e networking comercial.
O papel desses encontros ganha relevância diante de sinais de fragilidade no varejo. Dados citados por entidades oficiais e por plataformas de monitoramento mostram recuos recentes no comércio: a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE registrou queda do varejo restrito em junho, enquanto análise da Confederação Nacional do Comércio (CNC) indicou retração em categorias de maior valor — incluindo material de construção. Paralelamente, monitoramento transacional do setor pelo Itaú BBA apontou perda de dinamismo em julho, com o segmento de materiais de construção registrando desempenho fraco no período.
Essa combinação — ambiente macro mais desafiador e canais de venda pressionados — reforça a função estratégica das feiras e das redes associativistas. Ao gerar oportunidades B2B imediatas (condições comerciais diferenciadas nas feiras, rodadas de negócios) e ao disseminar práticas de gestão e tecnologias (painéis sobre IA, reforma tributária, capacitações técnicas), eventos como Expoconstruir e ENARE atuam como mecanismos para mitigar curvas de demanda e elevar a competitividade do varejo especializado.
Além das negociações e da capacitação, as feiras também cumprem papel de laboratório de inovação: espaços dedicados à invenção local, vitrines de novas soluções industriais e premiações setoriais aproximam entidades formadoras de tecnologia e capital humano do ponto de venda. Para redes regionais e familiares, isso tende a acelerar a adoção de processos mais profissionais — desde a curadoria de portfólio até a digitalização do atendimento —, dando escala e resiliency em um mercado sensível a custo de crédito e a ciclos de investimento em obras.
Na medida em que fabricantes, distribuidoras e redes continuarem a usar rodadas de negócios, painéis temáticos e programas de treinamento como instrumentos articulados, o setor de material de construção tende a ver nas feiras e nos encontros associativos um canal essencial para geração de negócios, difusão de inovação e qualificação do varejo especializado.