Porto mais preparado, estrada menos
Luís Eduardo Magalhães (LEM) consolidou-se como um dos polos de produção do Oeste baiano cujo escoamento depende tanto da capacidade portuária quanto da qualidade das rodovias que interligam fazendas, armazéns e cais. Em eventos recentes do setor, operadores e produtores traçaram um retrato híbrido: por um lado há avanços em terminais que ampliam janelas e volumes de embarque; por outro, trechos rodoviários críticos e obras lentas ampliam custos e incertezas logísticas.
Porto: investimentos que aumentam janelas e segurança de embarque
O Tecon Salvador, segundo o diretor executivo citado em encontro promovido em Luís Eduardo Magalhães, vive um processo de expansão e modernização com investimentos que, conforme o próprio representante, já superam R$ 1 bilhão. Entre as mudanças destacadas estão ampliação da área operacional, modernização de equipamentos (incluindo portêineres e tratores elétricos) e certificações no centro logístico que prometem melhorar agilidade, rastreabilidade e segurança no embarque do algodão.
Operadores como a Wilson Sons e lideranças do setor enfatizaram que essas melhorias do Tecon Salvador podem reduzir gargalos no cais: mais janelas de embarque e serviços integrados favorecem a previsibilidade para exportadores, especialmente da cotonicultura do Oeste baiano, e ajudam a manter competitividade frente a mercados externos, conforme relato de representantes do setor.
Rodovias: trechos críticos e obras que atrasam
Na ponta terrestre, entretanto, os relatos e dados consultados mostram desafios. Caminhoneiros e reportagem de acompanhamento apontam longas viagens entre LEM e destinos no litoral e em outros estados: um motorista descreveu transporte de 32 toneladas de farinha de milho saindo de Luís Eduardo Magalhães até Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, expondo a dependência de viagens de grande distância por rodovias federais que apresentam trechos problemáticos.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), citado em levantamentos sobre a duplicação da BR-101, lista causas recorrentes para atrasos: necessidade de revisão de projetos, limitações orçamentárias, processos de desapropriação e rescisões contratuais com empresas executoras. Em números publicados pelo DNIT, a Bahia aparece com percentual baixo de trechos duplicados da BR-101 — condição que, segundo especialistas e técnicos, mantém pontos de passagem ainda operando em pista simples e, portanto, sujeitos a congestionamentos, maior desgaste de equipamentos e riscos que elevam o custo unitário do transporte.
Impacto direto sobre prazos, custos e competitividade
Produção e projeção ajudam a medir a pressão sobre a logística: a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou a produção de algodão na Bahia em cerca de 1,78 milhão de toneladas em 2025, com possibilidade de chegar a 1,95 milhão, em área que pode alcançar 408 mil hectares. Líderes do setor ressaltam que o aumento de volumes exige capacidade portuária e fluidez nas rotas terrestres para não transformar ganho de produtividade em perda de competitividade por aumento de custos logísticos.
Representantes da cadeia do algodão alertam que, embora expansões como as do Tecon Salvador ofereçam janelas de embarque mais flexíveis, ganhos no porto podem ser corroídos por estrangulamentos nas rodovias: atrasos, necessidade de desvios e manutenção emergencial aumentam tempo de viagem, consumo de combustível, custo por frete e risco de atrasos em contratos de exportação.
Demandas e respostas: integração modal e calendário de obras
Produtores e associações levaram ao governo uma pauta que inclui infraestrutura logística entre prioridades — assunto tratado em eventos do setor e em documento entregue a autoridades estaduais. O pedido é por soluções integradas: rodovias em melhores condições e com obras concluídas no prazo, ampliação de capacidades portuárias, e ofertas de terminais e centros logísticos que promovam armazenamento, rastreabilidade e maior eficiência na cadeia.
Do lado do DNIT, técnicos reconhecem que licitações e cronogramas de obras são determinantes: há casos em que editais já publicados preveem prazos curtos para recuperação pontual, mas os processos maiores de duplicação e modernização demandam períodos mais longos por exigências ambientais, reassentamento e revisões técnicas. Isso significa que, no curto prazo, melhorias no cais podem avançar antes que toda a malha rodoviária esteja adequada aos aumentos de fluxo gerados pela própria expansão produtiva.
O balanço
A combinação entre investimento portuário e estradas abaixo do ideal deixa Luís Eduardo Magalhães em situação ambígua: a competitividade do algodão e de outros produtos do Oeste baiano ganha força com terminais mais modernos, mas permanece vulnerável a trechos rodoviários críticos e à velocidade com que obras de duplicação e recuperação forem licitadas e executadas. Operadores e produtores concordam que a solução passa por alinhar cronogramas entre portos, rodovias e centros logísticos para que o ganho de escala na produção não se transforme em custos logísticos maiores.