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Qualificação e indústria: como programas de turismo e a chegada da BYD podem aquecer o mercado de trabalho em Camaçari

19 de ago. de 2025google
Formação de mão de obra e articulação entre turismo e indústria na Bahia

Qualificação e indústria: como programas de turismo e a chegada da BYD podem aquecer o mercado de trabalho em Camaçari

Experiências como o Programa Jovem Aprendiz da Iberostar e a rampa industrial da BYD apontam possibilidades de articulação que podem reforçar renda e comércio regional

O crescimento de grandes investimentos industriais e a presença consolidada de redes hoteleiras na Bahia abrem uma janela de oportunidade para combinar formação profissional e demanda por mão de obra local. Dois conjuntos de dados e relatos publicados recentemente mostram caminhos e lacunas: o Programa Jovem Aprendiz mantido pela Iberostar em parceria com o Instituto Imbassaí e a expansão da BYD no Brasil, com planta em Camaçari e rede comercial em interiorização.

O Programa Jovem Aprendiz da Iberostar, executado pelo Instituto Imbassaí, reúne elementos que podem servir de referência para parcerias público‑privadas: desde 2015, mais de 820 jovens passaram pelo programa, com formação teórica e prática em áreas como cozinha, recepção, manutenção, entretenimento, lavanderia, administração e governança. Do total, 265 aprendizes foram efetivados — mais de 30% dos participantes — e exemplos de trajetórias como a de Hugo Vinícius da Silva, que entrou como aprendiz em 2015 e hoje ocupa cargo de subgovernante, ilustram resultados concretos de inserção profissional e criação de carreira dentro da cadeia do turismo. A Iberostar também mantém ciclos regulares de turmas; a edição iniciada em abril de 2025, por exemplo, contou com 37 aprendizes nos hotéis Iberostar Waves Bahia e Iberostar Selection Praia do Forte, conforme informações do próprio programa conduzido pelo Instituto Imbassaí e pela rede Iberostar.

Do outro lado, o movimento industrial e comercial em torno dos veículos eletrificados cria demanda direta e indireta por diferentes competências. A BYD vem ampliando sua presença no país: além de celebrar a marca de 150 mil veículos vendidos no Brasil, a empresa planeja transformar a planta de Camaçari (BA) em unidade produtiva que começou a operar a partir de kits (regime SKD) e tem previsão de funcionamento pleno até o fim de 2026, com capacidade inicial apontada em cerca de 150 mil veículos por ano, segundo comunicados e reportagens sobre a empresa. Em paralelo, a BYD comunicou objetivo de interiorizar sua rede de vendas e serviços com meta pública de chegar a 250 lojas até o fim de 2025, estratégia que, segundo a própria companhia, busca aproximar test drives, pós‑venda e oficinas do consumidor em cidades médias e polos regionais.

Esses dois vetores — formação prática aplicada ao turismo e expansão industrial automobilística — se encontram em demandas explícitas nas reportagens consultadas. A regulamentação temporária que autorizou a importação de kits desmontados (regimes SKD e CKD) com alíquota zero por seis meses, descrita em Portaria e resoluções do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e do Conselho de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex/Camex), reforça que a etapa inicial de montagem por kits terá requerimentos distintos de qualificação técnica. As matérias que tratam do tema explicam que o regime SKD permite chegada de veículos com acabamento interno e pintura, exigindo montagem final com menor necessidade de processos como soldagem do monobloco, enquanto o regime CKD demanda etapas industriais mais complexas (soldagem, pintura e montagem) — distinções que implicam perfis de habilidades diferentes para a força de trabalho.

Além da produção, a interiorização da rede de concessionárias e a ampliação de eletropostos pública e semipública, mencionadas por entidades do setor e levantamentos setoriais, apontam para uma maior necessidade de técnicos em manutenção de elétricos, profissionais de atendimento, logística e serviços correlatos. Reportagens também destacam que a própria BYD prevê geração de milhares de empregos diretos e indiretos ao longo da maturação do complexo industrial em Camaçari, e que esse movimento tende a dinamizar o varejo e os serviços locais — desde oficinas e centros de peças até comércio e alimentação — conforme a rede e a oferta se espalham.

Com base nesses elementos, surgem possibilidades concretas de articulação já apontadas nas matérias: programas de qualificação privados, como o modelo adotado pela Iberostar e o Instituto Imbassaí — que combina formação específica ao setor e efetivações — podem ser replicados ou adaptados em formato de consórcios entre redes hoteleiras, montadoras e instituições técnicas. A combinação seria útil tanto para suprir vagas operacionais no tic‑tac do turismo quanto para demandas técnicas mais especializadas geradas pela assemblagem inicial e pela expansão do pós‑venda automotivo.

É importante ressaltar que essas possibilidades são extraídas do cruzamento das informações disponíveis: o sucesso de um programa de aprendizagem do turismo com taxa de efetivação relevante (Iberostar/Instituto Imbassaí) e a necessidade de mão de obra para processos industriais e de rede comercial (BYD, regulamentação do MDIC/Gecex/Camex e dados setoriais sobre infraestrutura de recarga) criam um terreno propício para parcerias. Ao mesmo tempo, a natureza distinta das competências exigidas por SKD e CKD indica que modelos de formação técnica devem ser calibrados para perfis específicos, desde funções de atendimento e hospitalidade até soldagem, pintura e manutenção eletromecânica.

Para o comércio de Camaçari e cidades vizinhas, os potenciais impactos são também explícitos nos relatórios e coberturas: maior renda disponível decorrente de contratações e efetivações, mudança no perfil de consumo com maior demanda por serviços automotivos e de lazer, e necessidade de oferta ampliada de bens e serviços complementares. As matérias consultadas apontam que esse ciclo pode se retroalimentar — qualificação gera empregos formais, empregos formais aumentam consumo local e atraem novos serviços — mas dependem de coordenação entre atores públicos e privados para converter promessas de investimento em vagas e formação de qualidade.

Em síntese, as informações reunidas mostram dois pontos claros e complementares: primeiro, há exemplos concretos de programas de qualificação com histórico de efetivação e formação prática, como o Programa Jovem Aprendiz da Iberostar com o Instituto Imbassaí; segundo, a chegada e expansão da indústria de veículos eletrificados, representada pela BYD em Camaçari e pela interiorização de sua rede, gera demandas de trabalho que variam do atendimento e serviços ao processo industrial mais técnico. O desafio e a oportunidade, conforme os documentos e reportagens que tratam desses temas, estão em articular esses vetores de forma que a oferta de habilidades locais encontre, de modo planejado, as vagas e as novas necessidades do mercado regional.

Fontes citadas nesta reportagem: Programa Jovem Aprendiz da Iberostar e Instituto Imbassaí; Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e as normas que regulamentaram regimes de importação SKD/CKD; comunicados e reportagens sobre os planos da BYD para Camaçari e sua estratégia de interiorização de lojas; estudos e levantamentos setoriais sobre infraestrutura de recarga e participação de mercado no segmento de veículos eletrificados.