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Bastidores do varejo de material de construção: segurança frágil, fiscalização em campo e riscos além do balcão

21 de ago. de 2025google
Bastidores do varejo de material de construção: segurança, fiscalização e riscos operacionais

Bastidores do varejo de material de construção: segurança frágil, fiscalização em campo e riscos além do balcão

Um panorama recente do segmento de material de construção revela problemas operacionais que vão do estacionamento da loja até as decisões macroeconômicas que afetam oferta e preço de insumos. Incidentes documentados por câmeras, operações municipais de fiscalização e estudos setoriais apontam falhas físicas, demandas por compliance ambiental e uma pressão crescente sobre a atividade varejista causada pelo custo do crédito e por incertezas comerciais.

Furtos expõem vulnerabilidades físicas e risco para empregados

Um caso registrado em Dourados ilustra a fragilidade de segurança em pontos que, para lojistas, parecem rotina: três mulheres foram flagradas por câmeras subtraindo uma motocicleta do estacionamento de uma loja de material de construção durante o horário de almoço. Segundo o relato do gerente à reportagem da A Crítica de Campo Grande, a moto pertencia a um colaborador e estava destravada; a polícia investiga o caso com apoio das imagens, mas até a divulgação da notícia o veículo não havia sido recuperado.

O episódio evidencia duas questões recorrentes no varejo do setor: a exposição de bens de empregados e clientes em áreas externas e a dependência de medidas reativas (como uso de câmeras) que nem sempre garantem recuperação de ativos. A situação relatada também sugere custos diretos e indiretos para empresas e trabalhadores — desde a perda de um veículo até interrupções operacionais e impacto na sensação de segurança —, ainda que as reportagens não detalhem valores ou medidas compensatórias adotadas pela loja.

Fiscalização ambiental: da notificação ao requisito de caçambas credenciadas

Em paralelo aos riscos de segurança, operações municipais demonstram crescimento da fiscalização sobre o descarte de resíduos de obra. A Prefeitura de Cabo Frio, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Saneamento e Clima, realizou um "choque de ordenamento" com ações nos bairros Jardim Excelsior, Portinho e Novo Portinho para coibir lançamento irregular de entulho, poda sem autorização e ocupação indevida de espaços públicos. As equipes, apoiadas pela Comsercaf, retiraram resíduos, notificaram responsáveis e exigiram apresentação de licenças e do manifesto de resíduos, sob pena de sanções previstas em lei.

A prefeitura deixou claro que obras devem utilizar caçambas credenciadas para descarte, reforçando a necessidade de compliance ambiental para lojistas, construtores e consumidores. Para o poder público local, a combinação de notificação, prazo para regularização e destinação correta pelo serviço municipal busca não apenas punir, mas também reduzir riscos à circulação de pedestres e preservar áreas de vegetação nativa. Para varejistas e empreiteiros, isso traduz-se em obrigações operacionais adicionais: contratação de prestadores adequados, documentação e atenção a multas e embargos.

Riscos macro e logísticos pressionam operadores e decisões comerciais

Além das vulnerabilidades físicas e das exigências de descarte, o setor enfrenta pressões econômicas que afetam demanda e custo de operação. Dados e análises de mercado citados por instituições financeiras e associações setoriais mostram um ambiente menos favorável ao consumo de bens de maior valor. O Itaú BBA, por meio do índice Idat, apontou recuo nas transações do segmento de materiais de construção em julho, e a Confederação Nacional do Comércio (CNC), ao comentar a Pesquisa Mensal de Comércio do IBGE, destacou que o custo do crédito elevado e sua seletividade impactam vendas de itens que dependem de financiamento ou comprometem renda familiar.

Em contrapartida, organizadores de eventos regionais do setor, como a Expoconstruir no Ceará, avaliam que o impacto de medidas tarifárias internacionais será relativamente limitado para o varejo local, por ser um segmento com baixa exposição a exportações, segundo o CEO Carlito Lira. Há, portanto, uma divergência explícita nas leituras: enquanto analistas financeiros sinalizam enfraquecimento da atividade por causa do crédito caro, lideranças locais do varejo e organizadores de feiras apostam na resiliência do mercado doméstico e na retomada das reformas residenciais como alavancas de demanda.

Resposta do setor: eventos, redes e orientações técnicas

Frente a esses riscos, associações e redes do setor têm ampliado pautas de orientação para lojistas. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), citada em levantamento da Revista Anamaco, destacou a força do varejo como motor do mercado de tintas — segmento que responde por mais de 70% do volume comercializado por lojas especializadas, home centers e varejistas de material de construção — e projeta continuidade de demanda, apesar do ambiente de juros altos e crédito restrito.

Eventos como a 7ª Expoconstruir (apoio da Acomac-CE, Sinduscon-CE e outras entidades) e o Encontro Nacional de Redes (promovido pela Febramat), previsto para outubro, aparecem como plataformas onde lojistas, redes e indústrias discutem riscos operacionais, logística e soluções de compliance. Essas iniciativas prometem oferecer palestras sobre logística, gestão de resíduos, estratégias de venda e temas regulatórios — agendas que, segundo organizadores e parceiros, buscam reduzir assimetrias de informação e promover práticas que mitiguem perdas por furto, melhorem o descarte de entulho e adaptem o varejo às pressões macroeconômicas.

O que resta para o lojista no dia a dia

Na rotina das lojas de material de construção, a soma de fatores exige uma resposta prática: reforço de segurança em áreas externas, políticas claras sobre estacionamento e bens de empregados, adoção de procedimentos e contratos para destinação correta de resíduos (incluindo uso de caçambas credenciadas quando exigido), e acompanhamento das condições de crédito que influenciam o ritmo de vendas. Ao mesmo tempo, participar de redes, feiras e encontros setoriais tem sido recomendado por lideranças do setor como caminho para acessar orientações técnicas e formas coletivas de lidar com riscos comuns.

As notícias reunidas mostram que, enquanto medidas públicas de fiscalização avançam em municípios como Cabo Frio e incidentes pontuais de segurança — como o furto em Dourados — lembram vulnerabilidades concretas, o setor busca no diálogo com associações e eventos a combinação de prevenção, compliance e adaptação às condições macroeconômicas.