Feiras da agricultura familiar podem abastecer comércio de Arapiraca, mas exigem articulação entre produtores e instituições
O Circuito Regional de Feiras da Agricultura Familiar e Economia Solidária, que recentemente passou pelo Alto Sertão e reuniu cerca de 40 empreendimentos em 30 estandes, mostrou que há variedade e capacidade produtiva capazes de interessar a mercados urbanos: foram ofertados mel de abelha, chips de banana, batata-doce, macaxeira, milho verde, frutas, legumes, hortaliças, raízes, artesanato e comidas típicas. A própria proposta do governo estadual, conforme exposto pela secretária de Estado da Agricultura e Pecuária, Aline Rodrigues, é ampliar a venda direta para a rede hoteleira, bares, restaurantes e outros pontos de comercialização, colocando a produção familiar como insumo para a experiência turística e para o varejo.
Produtores e cooperativas que participaram do circuito relatam que a exposição amplia pedidos e visibilidade. Joene Silva, integrante da Cooperativa dos Agricultores Familiares e Remanescentes Quilombolas do Baixo São Francisco (COOAFAQ) e do Apiário Somos do Alto, afirmou que a divulgação facilita a geração de renda e que há capacidade para atender desde pedidos pequenos até volumes maiores, segundo a mesma fonte.
Essa oferta de produtos e a disposição dos produtores são um ponto de partida natural para integrar cadeias de abastecimento direcionadas a Arapiraca — cidade que já dispõe de espaços de comercialização e eventos culturais, como o Mercado do Artesanato Margarida Gonçalves, onde o projeto Tardezinha Cultural tem funcionado como vitrine para artesãos e atração de público. Ao mesmo tempo, ações de formação no varejo, como o I Workshop Novo Varejo realizado em Arapiraca, indicam interesse local em profissionalizar e modernizar gestão, liderança e práticas comerciais que poderiam facilitar a compra de fornecedores locais.
As matérias que documentaram esses eventos apontam para três frentes que precisam avançar para que a integração ocorra em maior escala: garantia de qualidade e inspeção, organização financeira e cooperativa, e logística/infraestrutura de escoamento. No campo institucional, o governo estadual destaca o fortalecimento do Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater/AL), da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal) e do Instituto de Terras e Reforma Agrária (Iteral) como medidas para assegurar qualidade e ampliar mercados internos e externos.
O Sebrae/AL, que promoveu a roda de conversa "Diálogo para o Desenvolvimento: Cooperativas, Crédito e Sustentabilidade", enfocou explicitamente a importância do cooperativismo e do crédito para fortalecer a agricultura familiar. Esses elementos — capacidade de organização coletiva e acesso a financiamento — surgem como condicionantes para que hotéis, restaurantes e lojas façam encomendas regulares e firmem parcerias comerciais com pequenos produtores.
No aspecto comercial, participantes do Workshop Novo Varejo ressaltaram a necessidade de líderes e gestores locais estarem aptos a incorporar fornecedores regionais, adaptando processos de compras, gestão de estoque e padronização de produtos. Palestrantes e organizadores do workshop destacaram que formação em gestão, inovação e recursos humanos pode aumentar a capacidade do varejo de trabalhar com variedade de fornecedores locais, criando confiança mútua entre estabelecimentos e produtores.
Apesar das oportunidades, as próprias fontes consultadas mostram que há ainda pontos a resolver: a ênfase na atuação de Adeal e Emater/AL para garantir qualidade sugere que normas e certificações são pré-requisitos para canais maiores; a agenda promovida pelo Sebrae/AL evidencia que financiamento e arranjos cooperativos são demandas reais; e o desejo de ampliar escoamento para hotéis e restaurantes implica necessidade de logística eficiente — desde embalagens e conservação até transporte regular — para que produtos in natura e agroindustrializados cheguem com segurança e frequência aos pontos de venda.
Em termos práticos, a articulação sugerida nas reportagens envolve a manutenção do circuito de feiras como espaço de conexão, o uso de mercados e eventos culturais de Arapiraca como vitrine contínua, e o aproveitamento de capacitações para o varejo. As instituições citadas nas coberturas — Seagri (Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária), Sedics (Secretaria do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Emater/AL, Adeal, Iteral, Sebrae/AL e Unicafes/AL — aparecem como protagonistas naturais para estruturar acordos-piloto entre produtores e redes de comércio arapiraquense.
As experiências relatadas também mostram que há produtores e cooperativas dispostos a adaptar volumes e produtos para demandas urbanas, e que espaços como o Mercado do Artesanato servem como plataforma municipal para iniciar testes de fornecimento a restaurantes e lojas. A continuidade do Circuito Regional e a realização de encontros entre produtores, compradores e instituições de apoio são descritas nas matérias como próximos passos concretos para transformar potencial em fornecimento regular.
Em síntese, as informações reunidas indicam que a integração da agricultura familiar ao comércio de Arapiraca é viável e já conta com iniciativas de promoção, formação e articulação. Para avançar em escala, serão necessários acordos formais de qualidade e inspeção, acesso a crédito e modelos cooperativos sustentáveis, além de soluções logísticas e de padronização que reduzam os riscos para compradores urbanos. As instituições citadas nas coberturas — especialmente Emater/AL, Adeal, Iteral e Sebrae/AL — são apontadas como peças-chave para viabilizar essa transição.