Nova sede do Sistema Comércio e Escola Sesc podem impulsionar requalificação do Centro de Campo Grande
Na mesma semana em que a capital sul-mato-grossense comemorou atos simbólicos para o comércio e a educação, foram anunciados no Centro de Campo Grande dois empreendimentos que prometem alterar a dinâmica urbana: o lançamento da pedra fundamental da nova sede do Sistema Comércio MS e a inauguração da Escola Sesc Ensino Médio Dr. José Roberto Tadros. As informações sobre projetos, custos e estruturas constam das matérias publicadas pelos veículos locais e das declarações de dirigentes presentes aos eventos.
O projeto do Sistema Comércio prevê a adaptação de um prédio existente na Rua Barão do Rio Branco, nº 1.266, em retrofit, com nove pavimentos e 11.584 m² de área total. O investimento anunciado é de R$ 67 milhões e a obra tem previsão de conclusão em 18 meses a partir do lançamento da pedra fundamental. Entre as funcionalidades previstas estão auditório, salas de reunião, coworking, restaurante-escola e espaços para eventos, com ênfase em soluções de sustentabilidade e acessibilidade, conforme descrição técnica do projeto e falas de dirigentes do Sistema Comércio MS.
A escola do Sesc, inaugurada no Centro, ocupa 2.042 m² e foi apresentada como unidade de ensino em tempo integral voltada à excelência e ao protagonismo estudantil. A estrutura inclui seis salas de aula com capacidade para 40 alunos cada — totalizando 240 vagas potenciais — além de auditório, quadra e áreas de convivência. Outras matérias reportaram a capacidade como “mais de 200 estudantes”, o que converge com os números de salas e vagas divulgados pelo Sesc.
Autoridades e dirigentes presentes aos eventos destacaram a expectativa de que os empreendimentos movimentem a economia local. O presidente do Sistema Comércio MS afirmou que concentrar Fecomércio, Sesc, Senac e IPF em um só endereço potencializará serviços; e a presença estimada de cerca de 300 colaboradores do Sistema no novo prédio foi mencionada como fator de impacto imediato para o comércio do entorno. O presidente da Confederação Nacional do Comércio também ressaltou o papel do setor de serviços para o desenvolvimento estadual.
O presidente da Câmara Municipal, vereador Epaminondas Neto (Papy), relacionou explicitamente o projeto com a agenda de requalificação do Centro, citando a possibilidade de formar um polo de serviços ao lado de outras intervenções já anunciadas para a região, como a instalação de um novo hospital, a reforma da antiga rodoviária e empreendimentos educacionais e hoteleiros. Essas citações apontam para um cenário em que o acréscimo de trabalhadores, estudantes e atendimentos pode gerar maior demanda por restaurantes, comércio de rua, hospedagem e serviços auxiliares.
Por outro lado, as matérias locais também registram tensões pré-existentes no uso do espaço público que ilustram desafios à integração dessas iniciativas. A Feira do Santa Luzia, tradicional evento dominical que funciona há 28 anos na Avenida São Nicolau, tornou-se alvo de disputa entre moradores, associação de moradores e feirantes. A discussão inclui questões de logística e transporte coletivo — opositores citam a presença de ônibus no trajeto da avenida como justificativa para remoção; feirantes e comerciantes afirmam que a feira gera movimento e renda locais e propõem ajustes no itinerário dos ônibus, conforme relato de feirantes e lideranças locais.
O impasse da feira expõe pontos que precisarão ser articulados caso o Centro receba os novos fluxos previstos: acessibilidade, logística de carga e descarga, itinerários de transporte coletivo em dias de maior concentração de pessoas, infraestrutura básica para vendedores (como banheiros) e regulamentação sobre uso do viário. No caso da Feira do Santa Luzia, reportagens indicam que houve notificação informal aos feirantes sobre mudança de local e que a prefeitura não havia se manifestado até a publicação, enquanto um assessor parlamentar afirmou que apenas três pessoas fizeram pedidos formais de retirada — sinal de que a questão não está resolvida administrativamente.
Alguns elementos do projeto da nova sede já preveem ações de acessibilidade: as reportagens sobre a obra e o retrofit mencionam a implantação de banheiros adaptados, sinalização tátil e medidas para eliminar desníveis, além de aproveitamento de luz natural e eficiência energética. Porém, não há, nas matérias consultadas, estudos ou levantamentos públicos que quantifiquem os impactos esperados no tráfego, na segurança urbana ou na economia local com precisão técnica — as análises disponíveis são, majoritariamente, baseadas em projeções e declarações de dirigentes e autoridades.
Em síntese, as iniciativas do Sistema Comércio e do Sesc criam uma oportunidade concreta de incremento do uso misto do Centro de Campo Grande, com potencial para atrair fluxos diurnos e consolidar um polo de serviços. Ao mesmo tempo, as disputas já observadas no comércio de rua, como no caso da Feira do Santa Luzia, e as lacunas de articulação administrativa registradas nas reportagens mostram que a potenciação desses efeitos depende de coordenação entre entidades do setor produtivo, prefeitura e legisladores locais para tratar de transporte, acessibilidade e regulamentação do uso do espaço público.