Tintas avançam, mas varejo de material de construção perde fôlego
Abrafati projeta alta moderada para tintas; Idat e PMC/IBGE mostram sinal de enfraquecimento do varejo
O setor de tintas imobiliárias registrou crescimento no primeiro semestre de 2025, com alta de 1,6% no volume de vendas frente ao mesmo período do ano anterior, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati). A entidade atribui esse desempenho à combinação de reformas domésticas, finalização de obras e à continuidade da demanda por cuidados com a casa iniciada na pandemia, e mantém uma projeção de crescimento entre 2% e 3% para 2025.
Esse otimismo, porém, convive com sinais contrários vindos dos indicadores de atividade do varejo. O índice em tempo real do Itaú BBA, o Idat, que monitora transações (cartões, Pix e operações de crédito) e abrange cerca de 20% das transações no país, mostrou meses consecutivos de desempenho fraco no varejo. Em julho, o Idat-LJQQ — que engloba material de construção, móveis e eletrodomésticos — recuou 8,6% na comparação anual; dentro desse recorte, as vendas de material de construção caíram 4,9% e móveis e eletrodomésticos 10,2%. Os analistas do Itaú BBA apontam que, após um maio mais forte, junho e julho sinalizaram perda de ritmo, elevando a cautela sobre o segundo semestre.
Os números oficiais do IBGE, por meio da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) de junho de 2025, também registraram sinais de arrefecimento: o varejo restrito recuou 0,1% frente a maio, e o comércio varejista ampliado — que inclui material de construção — apresentou queda de 2,5% no mês. O segmento de material de construção, em particular, registrou retração de 2,6% em junho, conforme consolidação e análises da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Especialistas e entidades citam fatores macroeconômicos claros que ajudam a explicar esse desalinhamento entre o desempenho das tintas e o varejo mais amplo: juros ainda elevados, crédito restrito e inflação acima da meta. Esses elementos tornam a decisão de compra mais sensível nos bens de maior valor ou nos casos em que há dependência de financiamento, afetando com maior intensidade a venda de bens duráveis e as transações feitas a prazo.
Há, no entanto, diferenças regionais e por canal que mudam o retrato do setor. A Abrafati destaca que o crescimento das tintas no primeiro semestre não foi uniforme: o Sul avançou 6,3%, o Nordeste 4,9% e o Centro-Oeste 2,2%, enquanto o Sudeste registrou leve retração (-0,4%) e o Norte teve queda de 4,1%. A associação reforça que o varejo especializado — lojas de acabamento, home centers e comércios de material de construção — continua sendo o principal motor do segmento de tintas, respondendo por mais de 70% do volume comercializado.
Em nível regional, feiras e iniciativas locais também sinalizam confiança no segundo semestre. Os organizadores da Expoconstruir 2025, por exemplo, esperam aumento de visitas e geração de negócios no Ceará, com projeções otimistas para a temporada de reformas que costuma aquecer vendas regionais. Essas expectativas mostram que, mesmo diante de indicadores nacionais mais fracos, trajetórias locais podem divergir e sustentar nichos de demanda — sobretudo em mercados onde reformas e finalizações de obras estão concentradas.
Dois quadros coexistem, portanto: por um lado, o mercado de tintas sustenta um crescimento moderado impulsionado por reformas, finalização de empreendimentos e concentração de vendas no varejo especializado; por outro, os indicadores transacionais em tempo real (Idat) e os dados oficiais do IBGE/PMC apontam perda de fôlego no varejo e recuos em material de construção em meses recentes. Essa combinação sugere um ciclo em que o segmento de tintas pode manter expansão moderada em 2025, mas com risco de desaceleração caso o crédito permaneça caro e a demanda por bens com financiamento não se recupere.
Na prática, a dinâmica do setor dependerá da intensidade e duração das restrições de crédito, do comportamento regional da demanda e da capacidade do varejo especializado de converter reformas e finalização de obras em vendas efetivas. Para 2025, a leitura mais prudente é de continuidade do crescimento nas tintas em nível moderado — conforme a Abrafati —, mas com atenção aos sinais do Idat e do IBGE, que podem apontar meses mais fracos para o varejo de material de construção.