Inovação e sustentabilidade no algodão do Oeste baiano abrem caminho para valor local em Luís Eduardo Magalhães
Nos últimos eventos do setor algodoeiro realizados no Oeste da Bahia, produtores e especialistas destacaram que a combinação entre tecnologia, práticas sustentáveis e iniciativas de mercado está criando condições para que Luís Eduardo Magalhães (LEM) capture parcela maior do valor agregado da fibra. Essas conversas ocorreram tanto no I Bahia Cotton Network, promovido pela Wilson Sons, quanto no Dia do Algodão da Abapa, e vieram acompanhadas de exemplos práticos de rastreabilidade, agricultura regenerativa e ações de posicionamento de marca.
Rastreabilidade e tecnologia foram dois eixos reforçados pelos organizadores e palestrantes. No Dia do Algodão, Rodrigo Iafelice — ex-CEO da Solinftec e cofundador da AgTrace — tratou de modelos de exportação ancorados em tecnologia, apontando que o consumidor moderno exige informações sobre origem e impactos da matéria-prima. Na mesma linha, a Wilson Sons, ao organizar o Bahia Cotton Network em Luís Eduardo Magalhães, destacou a importância da integração entre produtores, exportadores e operadores logísticos, mencionando investimentos em modernização do Tecon Salvador e certificações que garantem agilidade e rastreabilidade (entre elas, ABR-Log e Redex).
Essas ferramentas tecnológicas tornam viável, na prática, a oferta de algodão com origem verificada — um pré-requisito cada vez mais valorizado por compradores internacionais e por marcas que querem oferecer produtos rastreáveis. O movimento Sou de Algodão, apresentado pela Abrapa e com participação ativa da Abapa no Dia do Algodão, já explora esse caminho: o estande da iniciativa expôs peças feitas com algodão rastreável produzido na Bahia e vendeu camisetas e looks assinados por estilistas locais, demonstrando que a rastreabilidade pode ser convertida em argumento comercial direto para o consumidor final.
Agricultura regenerativa e qualidade da fibra também surgiram como elementos centrais para agregar valor. Na programação do Dia do Algodão, Rodrigo Buffon, da SPD Soil Diagnostic, apresentou práticas de manejo e diagnóstico de solo que promovem a regeneração e, segundo ele, contribuem simultaneamente para produtividade e bem-estar do ecossistema produtivo. As discussões técnicas sobre cultivares e manejo realizadas por especialistas da Embrapa e consultorias agronômicas reforçam a ideia de que qualidade consistente da fibra é base para acessar mercados premium.
Juntando tecnologia e práticas sustentáveis, o setor aponta potencial para novos produtos e serviços em LEM e região. Especialistas e lideranças presentes aos eventos — incluindo a liderança da Abapa e representantes da indústria — associam o fortalecimento da cadeia à necessidade de agregar valor local: confecções que trabalhem com algodão rastreável; marcas locais que comuniquem origem e impacto ambiental; e prestadores de serviços especializados em certificação, auditoria e tecnologia agrícola.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), presente no Dia do Algodão, salientou que a conexão entre agro e indústria é essencial para a agregação de valor. A presidente da Abapa, Alessandra Zanotto Costa, e o governador Jerônimo Rodrigues também enfatizaram, em diferentes momentos, a importância de políticas públicas e infraestrutura que permitam a industrialização e a geração de empregos a partir da produção primária.
No plano prático, alguns pontos apontados pelos atores do setor indicam caminhos claros para o comércio local em LEM: a demanda por serviços de rastreabilidade e plataformas como AgTrace ou soluções inspiradas na Solinftec; a oferta de certificações e auditorias para garantir padrões ambientais e sociais; e a articulação entre produtores e costureiras/pequenas indústrias têxteis para transformar fibra em produtos com maior valor agregado. A Wilson Sons, por sua vez, colocou a logística como fator habilitador, lembrando que investimentos em terminais e serviços integrados são decisivos para manter a competitividade nas exportações e facilitar operações de empresas locais.
Apesar das oportunidades, vozes do setor reconhecem desafios: fortalecer a indústria local exige espaço para investimentos, qualificação profissional e arranjos que conectem produtores, designers, empreendedores e instituições de certificação. Esse foi exatamente o pedido entregue ao governador no Dia do Algodão — um documento com pautas sobre infraestrutura, energia, licenciamento ambiental e segurança jurídica, elaborado pela Abapa em conjunto com a Aiba.
Em resumo, as iniciativas recentes no Oeste baiano indicam que a combinação entre rastreabilidade, práticas regenerativas e iniciativas de mercado como o movimento Sou de Algodão cria uma base concreta para que Luís Eduardo Magalhães e municípios vizinhos desenvolvam novas atividades comerciais: confecções locais que usem algodão rastreável; marcas que vendam a narrativa de origem e sustentabilidade; e uma cadeia de serviços (tecnologia, certificação, logística) capaz de transformar a qualidade da fibra em valor econômico local.
As conclusões e expectativas citadas nesta reportagem baseiam-se nas apresentações e declarações reunidas durante o I Bahia Cotton Network (Wilson Sons) e o Dia do Algodão/25 anos da Abapa, onde especialistas como Rodrigo Iafelice (Solinftec/AgTrace), Rodrigo Buffon (SPD Soil Diagnostic), representantes da Abrapa, Anea e da Fieb, e iniciativas como o movimento Sou de Algodão discutiram tecnologia, sustentabilidade e mercado.