Comércio de Nova Friburgo entre atos de ajuda e investigação criminal
Na mesma sexta-feira, 15 de agosto, o comércio de Nova Friburgo apareceu em duas frentes distintas: de um lado, uma ação pública de solidariedade coordenada pelo setor; do outro, uma operação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) que mirou um estabelecimento comercial suspeito de integrar uma rede de agiotagem e extorsão.
Solidariedade formalizada. Pela tarde, o Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) e o Sesc RJ entregaram, no Sesc Nova Friburgo, sete toneladas de alimentos não perecíveis arrecadadas durante o 23º Festival Sesc de Inverno. A doação, segundo a reportagem do veículo local, foi recolhida nos finais de semana dos principais shows no Nova Friburgo Country Clube e destinada a dez instituições socioassistenciais cadastradas no programa Mesa Brasil Sesc RJ.
O presidente do Sincomércio, Braulio Rezende, e o vice-presidente, Theóphilo Rodrigues Pinto Neto, acompanharam a distribuição. Rezende ressaltou o caráter voluntário das doações e comemorou o recorde de arrecadação no estado, além de lembrar que, no conjunto do Festival Sesc de Inverno de 2024, a cidade já havia contribuído com quase seis toneladas ao Mesa Brasil. Entre as entidades beneficiadas estão a Associação Pestalozzi de Nova Friburgo, a Apae, a Casa dos Pobres São Vicente de Paulo e outras organizações locais que recebem apoio do programa.
Operação do MPRJ atinge comércio local. Na manhã do mesmo dia, o MPRJ deflagrou uma operação para cumprir mandados de prisão e busca e apreensão contra três investigados por suposta participação em uma rede de extorsão e agiotagem em Nova Friburgo. Conforme a investigação citada pela reportagem, o grupo — cujo líder é identificado como Luiz Alexandre Silva, conhecido como Tenório — atuaria com cobranças violentas que incluíam agressões, ameaças de morte e uso de armas de fogo.
O MPRJ apontou que Tenório e uma das investigadas, Flávia Ouverney Canela, mantinham um comércio de cestas básicas e veículos usados onde, segundo as apurações, funcionaria o esquema de empréstimos ilegais com juros que poderiam chegar a 20% ao mês. A filha de Flávia, Emile Canela, também foi alvo da investigação. Entre os bens apreendidos estão veículos que, conforme o órgão, seriam provenientes de dívidas não quitadas, além de objetos usados para intimidação.
Os três irão responder por associação criminosa, roubo e extorsão, segundo o MPRJ, que afirmou continuar as investigações para identificar outras vítimas e eventuais integrantes do grupo.
O mesmo tecido social, faces diferentes. Os registros de um dia mostram dois usos distintos do comércio local: um público e organizado, articulado com o Sesc RJ e o programa Mesa Brasil para mitigar a insegurança alimentar; outro, segundo o MPRJ, voltado à exploração de pessoas em vulnerabilidade por meio de atividades ilícitas camufladas por negócios formais.
Enquanto o Sincomércio valorizou a resposta da comunidade friburguense e o papel do Mesa Brasil na orientação do aproveitamento integral dos alimentos doados, o MPRJ destacou a necessidade de apurar e responsabilizar práticas comerciais que, sob aparência legítima, possam lesar moradores e prejudicar a confiança no comércio local.
Em contexto de recuperação econômica e movimento turístico — condição apontada por previsões meteorológicas locais como favorável a passeios e eventos —, gestores do setor e autoridades têm, agora, o desafio comum de fortalecer tanto as ações de apoio social quanto os mecanismos de fiscalização para preservar a integridade do comércio em Nova Friburgo.
Fontes citadas: Sincomércio, Sesc RJ e programa Mesa Brasil Sesc RJ (relatados em reportagem local sobre a entrega de alimentos) e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), que conduziu a operação e forneceu informações sobre a investigação).