Comércio em Nova Friburgo mostra faces opostas: doação de alimentos do Festival e operação do MPRJ contra agiotagem
Em Nova Friburgo, duas notícias recentes sobre atividades comerciais revelam contrastes: de um lado, a mobilização do varejo e do Sesc em prol de redes de assistência; de outro, a ação do Ministério Público que investiga um estabelecimento comercial suspeito de abrigar esquema de agiotagem e extorsão.
Solidariedade formalizada: o Sindicato do Comércio Varejista (Sincomércio) e o Sesc RJ entregaram, conforme informado pelas próprias entidades, sete toneladas de alimentos não perecíveis arrecadadas durante o 23º Festival Sesc de Inverno, realizado no município entre 11 e 27 de julho. A entrega ocorreu na tarde de sexta‑feira, 15, no Sesc Nova Friburgo, e os mantimentos foram destinados a dez instituições cadastradas no programa Mesa Brasil Sesc RJ.
O presidente do Sincomércio, Braulio Rezende, comemorou o que chamou de recorde de arrecadação no Estado do Rio, destacando a solidariedade dos friburguenses. Segundo a organização do programa Mesa Brasil, a doação soma‑se a quase seis toneladas já arrecadadas no mesmo festival, e o Mesa Brasil — conforme sua própria descrição — recolhe alimentos de cerca de 200 parceiros para repassar a mais de 1.300 instituições no estado, além de orientar sobre aproveitamento integral dos alimentos.
As instituições locais beneficiadas pela remessa mencionada incluem organizações como a Associação Pestalozzi de Nova Friburgo, Apae e a Casa dos Pobres São Vicente de Paulo, entre outras, conforme relação divulgada pelos organizadores da distribuição.
Comércio como fachada investigada: no mesmo período, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou uma operação em Nova Friburgo para cumprir mandados de prisão e busca contra três pessoas denunciadas por participação em uma rede de agiotagem e extorsão. Segundo o MPRJ, o grupo teria utilizado um comércio de cestas básicas e veículos como frente para oferecer empréstimos ilegais com juros que, conforme a denúncia, chegariam a 20% ao mês.
O MPRJ descreve que o esquema, liderado por um ex-policial militar identificado nas acusações como Luiz Alexandre Silva (Tenório), teria empregado intimidação, agressões físicas e uso de armas para cobrar dívidas, chegando a exigir imóveis como forma de pagamento. Foram apreendidos, segundo o órgão, porrete com inscrição e veículos que estariam vinculados a dívidas não quitadas. Os investigados foram denunciados por associação criminosa, roubo e extorsão, e as investigações continuam para identificar outras vítimas e possíveis envolvidos.
Contraste e implicações: as duas coberturas deixam explícito um aspecto relevante sobre o papel do comércio em Nova Friburgo: enquanto entidades organizadas do setor formal, como o Sincomércio em parceria com o Sesc RJ e o Mesa Brasil, usam sua capilaridade para canalizar doações e reforçar redes de proteção social, o MPRJ aponta que estabelecimentos comerciais também podem ser instrumentalizados para atividades ilícitas que exploram populações vulneráveis.
As fontes que informaram essas ações — o próprio Sincomércio e o Sesc RJ sobre a doação, e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro sobre a operação — mostram, cada uma a seu modo, como o comércio local pode tanto fortalecer laços comunitários quanto, segundo investigações, encobrir práticas criminosas. As apurações do MPRJ seguem em andamento, enquanto o Mesa Brasil prossegue com a distribuição das doações às instituições cadastradas.