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De micro a marca internacional: como a Clariá escalou do interior paulista à passarela italiana

21 de ago. de 2025google
Clariá: da loja em Adamantina à passarela em Torino

Clariá: da loja em Adamantina à passarela em Torino

Em agosto de 2016, a fundadora Maria Clara Paloni Silva inaugurou a primeira loja da Clariá em Adamantina (SP). Nove anos depois, a marca que nasceu naquele comércio do interior paulista soma oito pontos de venda — sete no Brasil e uma unidade no Lago di Garda, na Itália — e participou, em julho de 2025, do Torino Fashion Week. As informações constam em entrevista da própria fundadora ao g1 Presidente Prudente.

O relato de Maria Clara junto ao g1 traça uma trajetória marcada por decisões práticas e pela articulação local: no início, a relação com fornecedores começou com pequenas compras de tecidos — referências de 10 a 15 metros — e, à medida que a marca comprovou demanda, esses mesmos parceiros passaram a fornecer centenas de metros, chegando, em alguns casos, a 800, 900 e até 1.000 metros de determinados artigos, segundo a empreendedora.

Essa evolução de abastecimento não foi apenas uma consequência da ampliação das lojas: foi, também, produto de negociação e de planejamento. Maria Clara conta que, nos primeiros contatos, ela e o pai apresentavam aos fornecedores um mapa com as cidades em que pretendiam abrir novas lojas — uma aposta de crescimento que os fornecedores “compraram”. O gesto revela uma estratégia de convencimento e confiança mútua que substituiu garantias formais por projeção de escala.

Outra peça central da expansão foi a rede familiar. A fundadora afirma ao g1 que o apoio dos familiares foi decisivo não só no aporte financeiro inicial, mas também no trabalho diário: presença em inaugurações, participação na produção e suporte emocional. A narrativa da empreendedora destaca que a Clariá “não seria nem a metade do que é” sem esse apoio, e que a equipe — hoje maior que o núcleo familiar — é “muito forte e alinhada”.

No plano internacional, a Clariá construiu presença física na Itália há cerca de dois anos e, em julho de 2025, levou 15 looks (29 peças de referência) ao Torino Fashion Week, evento que, segundo a fundadora, atua como vitrine para marcas que buscam conexão com mercados globais. A participação reforçou laços internacionais e rendeu à marca um convite para a Milão Fashion Week; Maria Clara disse ao g1 que a equipe optou por recusar esse convite imediato por questões de timing — o evento ocorreria em setembro e, na avaliação dela, o prazo foi “muito em cima”. A decisão ilustra um ponto crítico na internacionalização: aceitar convites importantes exige alinhamento prévio com calendário, produção e logística.

Em termos de posicionamento de produto, a Clariá se define como marca de casual wear com foco em alfaiataria e em peças atemporais para o guarda‑roupa feminino contemporâneo. Essa consistência estética, combinada à estratégia multicanal — oito lojas físicas e um canal de e‑commerce —, foi usada pela fundadora para ampliar alcance sem perder a identidade.

Do ponto de vista operacional, o caso deixa alguns aprendizados explícitos na fala de Maria Clara ao g1: a construção de confiança com fornecedores pode começar por pequenos pedidos e por uma narrativa de expansão; o uso da rede familiar pode reduzir custos iniciais e fortalecer execução; e convites internacionais exigem preparo que vai além da visibilidade, incluindo tempo suficiente para ajustar produção e logística. A recusa temporária ao convite de Milão expõe que, para marcas regionais, oportunidades globais também impõem riscos operacionais quando o calendário não acompanha a capacidade produtiva.

O relato da fundadora também sugere efeitos locais mais difusos, ainda que não quantificados na reportagem: a marca é reconhecida nas cidades onde atua — Maria Clara destaca o case de Presidente Prudente como realização e fala em clientes fiéis — e a expansão reforçou a presença da Clariá no interior paulista ao mesmo tempo em que abriu portas no exterior. Porém, números sobre emprego, faturamento ou impacto econômico municipal não foram apresentados na entrevista ao g1.

Para empreendedores de moda do interior que busquem seguir caminho parecido, o estudo de caso da Clariá evidencia caminhos concretos e limites práticos: comece com planejamento geográfico que convença fornecedores, cultive laços de confiança para aumentar volumes ao longo do tempo, mantenha coerência de produto e avalie com cuidado convites internacionais quando a janela temporal comprometer a operação.

Em suas palavras ao g1, Maria Clara resume a experiência como a concretização de um sonho que, além de transformar a sua vida, envolveu e mobilizou sua família e uma equipe alinhada — elementos que, para ela, foram tão fundamentais quanto a presença em uma passarela internacional.