Loqal

Omnichannel e comércio digital abrem espaço para a moda autoral, brechós e upcycling

21 de ago. de 2025google
Omnichannel e moda autoral — digitalização de pequenas marcas

Omnichannel e comércio digital abrem espaço para a moda autoral, brechós e upcycling

A digitalização não é mais opção, é caminho para sobrevivência e ampliação de mercado entre marcas autorais e pequenos produtores. Relatos de empreendedoras e levantamentos sobre moda circular presentes nas matérias consultadas mostram três movimentos concomitantes: a integração entre ponto físico e canais digitais, o uso intenso de redes sociais e marketplaces para descoberta e venda, e a apropriação do discurso de produção responsável como diferencial.

Da vitrine local para a passarela internacional: omnichannel como selo de legitimação

A trajetória da marca Clariá, liderada por Maria Clara Paloni Silva, ilustra como lojas físicas, presença online e participação em semanas de moda podem operar em conjunto. A marca, que mantém oito unidades físicas — incluindo uma na Itália — e presença em e‑commerce, levou coleções à Torino Fashion Week e recebeu convite para a Milão Fashion Week, segundo depoimento da fundadora. Esse percurso é apresentado como estratégia de alcance internacional e de construção de reputação: a passarela atua como vitrine para conectar produção autoral a novos mercados e consumidores.

Maria Clara também destaca um desafio praticamente logístico e de cadeia: a dificuldade inicial em encontrar fornecedores e a necessidade de escalonar compras à medida que a marca cresceu — dos primeiros pedidos de 10 a 15 metros de tecido até aquisições de várias centenas de metros. Esse relato é uma evidência direta, nas fontes, de como o salto do artesanal para operações omnichannel exige adaptação da cadeia de suprimentos.

Redes sociais e marketplaces: descoberta, tráfego e comunidade

Os textos consultados mostram que brechós e produtores de upcycling têm forte dependência de plataformas digitais para serem encontrados. Consumidores e garimpeiros citados nas matérias relatam buscar indicações em TikTok, Facebook Marketplace e outras redes; uma entrevistada que frequenta desapegos recomenda justamente essas plataformas para orientar novos consumidores. Para muitos brechós, além do preço, a presença online amplia visibilidade e permite conectar peças únicas a públicos que valorizam diferenciação estética.

No campo da produção autoral, publicações que cobrem marcas destacam que edições limitadas, estamparia artesanal e acabamentos cuidadosos são elementos comunicáveis nas redes — atributos que funcionam bem em formatos de conteúdo visual e em canais que permitem narrativa da peça, do processo e do autor.

Upcycling, brechós e o argumento da moda circular

As discussões sobre moda circular sustentam o crescimento desses segmentos. Um relatório citado nas matérias, da Global Fashion Agenda, aponta cifras globais que colocam a gestão de resíduos têxteis como questão central; o levantamento mencionado indica 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis descartadas no mundo nos últimos anos, com previsão de aumento. No Brasil, números trazidos pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais chegam à ordem de milhões de toneladas, o que alimenta a narrativa de consumo consciente explorada por brechós e ateliês de upcycling.

Relatos diretos de práticas de upcycling mostram a transformação da produção caseira em negócio: artesãs como Gabriela Alves e Rayssa Amorim descrevem o processo criativo que confere novo valor a peças recicladas e reforçam a dimensão identitária e afetiva do produto — argumentos fundamentais para atrair consumidores dispostos a pagar mais por história, exclusividade e responsabilidade ambiental.

Oportunidades e limites — o que as fontes mostram (e o que fica em aberto)

As matérias consultadas convergem em algumas oportunidades claras: edições limitadas e produção responsável ajudam a diferenciar ofertas num mercado saturado; participação em feiras e semanas de moda amplia legitimidade; redes sociais e marketplaces funcionam como canais de descoberta e venda direta. Publicações que selecionam marcas autorais ressaltam também que comunicação consistente sobre processo e materiais é parte da proposta de valor dessas grifes.

Ao mesmo tempo, as fontes trazem menos detalhamento sobre questões operacionais que afetam a digitalização: políticas de troca e devolução, custos de logística reversa, padronização de qualidade para vendas online e estrutura de frete para peças únicas são temas pouco explorados nos relatos. Há, contudo, indicações de que escalar fornecedores e reorganizar compras foi uma necessidade real em casos como o de Clariá — sinal de que a transição do artesanal para operações com lojas físicas e e‑commerce exige ajustes na cadeia de suprimentos.

Síntese

O mosaico apresentado nas reportagens consultadas aponta um cenário em que o omnichannel aparece como uma estratégia complementar: lojas físicas e eventos legitimam a marca; e‑commerce e redes sociais ampliam alcance e facilitam descoberta; marketplaces e plataformas de desapego expandem o mercado para brechós e upcyclers. A combinação desses elementos permite que marcas autorais comuniquem valor agregado — exclusividade, técnica, história e responsabilidade — a consumidores em busca de alternativas à fast fashion. Para avançar, porém, o setor precisa enfrentar desafios práticos de escala e suprimento, temas que demandam aprofundamento nas próximas apurações.

Fontes citadas nas matérias consultadas: relatório da Global Fashion Agenda; dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais; declarações de Maria Clara Paloni Silva (Clariá); relatos de consumidoras e garimpeiras (Letícia Oliveira); depoimentos de artesãs Gabriela Alves e Rayssa Amorim; e perfis de marcas autorais citados em seleção editorial de moda.