Pizzarias brasileiras no exterior: prêmios em Orlando, reconhecimento internacional e o dilema de crescer sem perder qualidade
Negócios de alimentação criados por brasileiros vêm ganhando espaço fora do país, impulsionados tanto pela demanda da diáspora quanto pelo turismo. Em Orlando, a fintech Nomad organizou a segunda edição do "Nomad’s Choice Awards", uma votação aberta ao público que destacou os estabelecimentos fundados por brasileiros mais lembrados pelos visitantes e residentes. Lucas Vargas, CEO da Nomad, afirmou que a premiação vai além do reconhecimento, reafirmando “o impacto significativo que nossa comunidade tem na economia local e global” — uma sinalização de que a comunidade brasileira é um importante mercado para marcas nacionais no exterior.
Os números citados pela própria organização e por dados locais reforçam esse movimento: segundo a secretaria de turismo de Orlando citada pela Nomad, 24% dos turistas brasileiros que visitaram a cidade em 2024 utilizaram os serviços da fintech, e a empresa mantém um ponto de apoio no Outlet Premium com serviços voltados ao público brasileiro, como café e área de descanso. Em paralelo, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) foi mencionada na cobertura como fonte do crescimento dos investimentos produtivos de empresas brasileiras nos EUA — US$ 22,1 bilhões em 2024, alta de 52,3% em dez anos — o que indica escala financeira e interesse em estruturar negócios fora do Brasil.
Esse cenário global encontra respaldo na reputação construída internamente. Relatos sobre a cena gastronômica de São Paulo — citando o guia Michelin e a consultoria Resonance Consultancy — ressaltam que a cidade abriga três das 100 melhores pizzarias do mundo e que bares e restaurantes são um dos principais atrativos para turistas: pesquisa do Observatório de Turismo e Eventos paulistano apontou que 70% dos 15,6 milhões de visitantes anuais frequentam bares e restaurantes. Além disso, iniciativas da Prefeitura de São Paulo, pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (SMDET) e pelo Portal Cate, têm ofertado cursos e programas de capacitação que, no país, ajudam a profissionalizar equipes e empreendedores no setor.
Juntar esses pontos — reconhecimento local, formação profissional e uma comunidade de consumidores no exterior — cria uma janela para que pizzarias e outros negócios gastronômicos brasileiros tentem se estabelecer fora do país. A premiação promovida pela Nomad funciona como indicador direto da demanda da diáspora e do turista brasileiro, enquanto o aumento de investimentos relatado pela CNI mostra capacidade de capitalização.
Mas a expansão internacional traz desafios evidenciados por exemplos fora do universo brasileiro. No Reino Unido, o chef Michele Pascarella, do Napoli On The Road, ao anunciar a abertura de uma nova filial no Soho, afirmou em entrevista ao The Standard (citada pela cobertura internacional) que não pretende ampliar demais a rede porque, segundo ele, “a qualidade cai” com o aumento das unidades. Essa declaração funciona como alerta: mesmo casas muito premiadas enfrentam o dilema entre aproveitar a demanda e preservar a excelência que construiu sua reputação.
Do ponto de vista prático, as frentes que se mostram determinantes nesse processo aparecem de forma implícita nas matérias consultadas: a existência de um público brasileiro consolidado em destinos como Orlando, programas públicos de capacitação em São Paulo e o fluxo de investimentos. Juntas, essas variáveis dão suporte à internacionalização, mas também exigem decisões estratégicas sobre modelo de expansão, padronização da produção e preservação da identidade gastronômica.
Para empreendedores brasileiros interessados em levar pizzarias ao exterior, a lição que emerge das informações reunidas é dupla: há demanda e infraestrutura de mercado (turistas e comunidades brasileiras, canais de suporte como iniciativas da Nomad e crescimento de investimentos), e há também um aviso claro de operadores premiados sobre os riscos de perder qualidade ao multiplicar unidades. A combinação sugere que o caminho mais sustentável passa por planejar expansão com vetores de garantia de qualidade — treinamento, processos de operação e presença de parceiros locais — aproveitando a reputação construída em centros como São Paulo e a capilaridade do público brasileiro no exterior.
As fontes desta reportagem incluem os dados e declarações citados pela Nomad (Nomad’s Choice Awards), informações da secretaria de turismo de Orlando mencionadas pela iniciativa, os números de investimentos divulgados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), e a análise sobre gastronomia e apoio institucional em São Paulo feita pela Prefeitura de São Paulo (SMDET, Observatório da Gastronomia e Portal Cate). A advertência sobre qualidade em processos de expansão foi trazida pela entrevista ao The Standard com o chef Michele Pascarella, referenciada em cobertura sobre a abertura no Soho.